ALMA AO VENTO

A expressão encontrava o caminho
Na voz precisa que rasgava o tempo
E com um sopro simples e magistral
Registrava o sentimento mais lindo.
Cantava a vida, o amor, as angústias
De uma maneira tão verdadeira,
Que parece não haver outra estrada
À expressão daquele sonoro grito:
Ou derramava ao vento o seu canto
Ou se calava, e calada se implodia
Sem poder soltar ao vento
O encantamento que a devorava.
Agora, sentindo os tormentos
Que a incomodava, agradeço
A força do seu gesto e ao vento
Que me trouxeram os seus gemidos
Neste canto agudo, suave e divino,
Que me acalma no meu relento.

(Homenagem a Elis Regina)
Imagem: "O grito" de Edvard Munch - 1893.