GRAFITE EM PRETO E BRANCO

Enfio no saco a viola

e vou pro mato comer jabuticaba e carambola

enquanto na cidade a vida rola

de voto em voto

de copo em copo

de comentário em comentário

sobre o tal que quer se eleger

depois de ser tachado de larápio...

Enfio meus sonhos no repente

e saio por aí a mostrar os dentes

como um felino desocupado

que mora perto do descampado

que o dono da fazenda mandou queimar

para plantar cana de doce adoçado

pra depois vender pra Petrobrás...

Me jogo no mundo de um jeito

não quero ser vereador e nem prefeito

prefiro a ocupação de poeta

que é o que me resta

depois de ter andando de terno e gravata

de ter me perdido dentro da grande mata

cheia de edifícios e invadida construção

que ergueram bem perto do puxadinho

do meu coração...

Hoje acredito nos que tem menos de vinte

a cada um deles peço que meu coração repinte

pra que façam do muro das lamentações

um belo - em preto e branco - grafite

mostrando o quão bela é essa terra

cheia de índios e florestas

na oca das ilusões...