PASSAGEM

E quando no crepúsculo da vida

A voz fraca já quase sumida

Tentar falar-te, me escuta

É o tempo falando abafado

É o futuro ficando ao passado

Predizendo a verdade irrefuta.

São meus olhos de brilho ofuscado

Resta ao corpo incólume marcado

Vai-se o néctar suplente de amor

Fica ao rastro recente o efeito

Do prazer já não resta ao peito

Um vestígio que aplaque a dor

Resta ainda a saudade incontida

E a inveja em si corroída

Conjetura os plágios do tempo

Que passeiam entre muros fechados

Debochando da alma isolada

Em refúgio inativo e isento.

Foge o medo ao ardume da morte

Peca a alma confundindo a sorte

Volto ao nada e encontro o tudo

Que se revela ao infinito d’além

Veja o mal sobraçando ao bem

E o destino propagando-se mudo.

Perde o corpo a noção e a calma

Vejo a vida escorrendo p’ralma

E se acaba o tempo arranjado

Só o amor prevalece e perdura

E uma paz infinita e segura

Predomina ao ódio e ao pecado.

E o que antes me era temor

Se revela em beleza indolor

Que invade pra mais sempre mais

E me deixo levar sem lamento

A este novo tempo sem tempo

Benfazejo imorredouro de Paz.

Ignácio Santos

ignacio santos
Enviado por ignacio santos em 28/09/2016
Código do texto: T5774809
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