PASSAGEM
E quando no crepúsculo da vida
A voz fraca já quase sumida
Tentar falar-te, me escuta
É o tempo falando abafado
É o futuro ficando ao passado
Predizendo a verdade irrefuta.
São meus olhos de brilho ofuscado
Resta ao corpo incólume marcado
Vai-se o néctar suplente de amor
Fica ao rastro recente o efeito
Do prazer já não resta ao peito
Um vestígio que aplaque a dor
Resta ainda a saudade incontida
E a inveja em si corroída
Conjetura os plágios do tempo
Que passeiam entre muros fechados
Debochando da alma isolada
Em refúgio inativo e isento.
Foge o medo ao ardume da morte
Peca a alma confundindo a sorte
Volto ao nada e encontro o tudo
Que se revela ao infinito d’além
Veja o mal sobraçando ao bem
E o destino propagando-se mudo.
Perde o corpo a noção e a calma
Vejo a vida escorrendo p’ralma
E se acaba o tempo arranjado
Só o amor prevalece e perdura
E uma paz infinita e segura
Predomina ao ódio e ao pecado.
E o que antes me era temor
Se revela em beleza indolor
Que invade pra mais sempre mais
E me deixo levar sem lamento
A este novo tempo sem tempo
Benfazejo imorredouro de Paz.
Ignácio Santos