COMO UM SOL
Escondo meu coração e desapareço...
Rezam por mim, desdobram terços,
pensam que sumi sem deixar pegadas,
que estou por aí feito alma penada,
a vender bugigangas no mercado,
desaparecido por opção, o safado,
a colher o que, enfim, plantei,
ou ter sido morto por que enviei
palavras ao Senado, ao Congresso,
ofensivas, com menções a sexo,
rasgam minhas poesias, dão risada,
nunca acreditaram em uma só palavra,
mentem sobre minha fúria intelectual,
tratam-me como a um animal,
rogam praga e fazem o sinal da cruz,
é como se tivessem apagado a luz,
passei a não existir de fato,
talvez pensem que estou no mato
sem cachorro a me esconder por vergonha,
que vim pelo alto no bico de uma cegonha,
logo eu, que caí em si quando era pequeno,
via lobos famintos e cavalos comendo feno,
pessoas desajustadas no passeio público,
eu junto, eu sei, não era o único,
mas o mundo me deu as presas que carrego,
nas mãos querem enfiar seus pregos,
me escondo na minha culta imaginação,
nos labirintos palacianos do meu coração,
um dia voltarei como um Rei que retorna,
forjarei minha própria espada na bigorna,
limparei meu nome da sujeira e da perdição,
levarei minha alma, serena, pela mão,
porei em minha fronte a coroa de espinhos,
como um sol, não estarei sozinho,
em paz seguirei minhas próprias pegadas,
só eu, sozinho, em minha estrada,
nenhuma sacola ou objeto de desejo,
sem me corar, sem nenhum medo...