PARAÍSO
Bela e suntuosa, a maçã espera
que passe um homem ou mulher que a coma;
assim se cumprirá o espargir do pólen da fera,
Deus descido à terra, que tudo assume e soma...
Belo, Adão passeia nu e reluzente pelo Paraíso,
confere a água doce do riacho e a plenitude de sentir
a relva macia, não contaminada, o tilintar do guizo
da serpente a penetrar-lhe os ouvidos,
com sua alma a bulir...
Eva, esplendida planície de sombras indefinidas,
recolhe os restos mortais do passado e repinta
o futuro com seu sangue planejado, repõe na vida
o que a ciência virá, um dia, a criar com vermelha tinta...
A consciência, sentada à beira do poço da criação,
apanha vestígios de eras e deuses imortais caídos,
monta o quebra-cabeça e evolui para a sensação
de viver e morrer, quiçá amor, luz aos sentidos...
Eu, carne de caminhos e propósitos de mil variantes,
espalho poesia sobre a vermelha terra incendiada;
sei que não verei o futuro e nem tudo o que houvera antes,
ao espaço cósmico darei minha alma esculpida em tudo e nada...