ERA O AROMA DA VIDA

Passei dias olhando a chuva pela janela,

Confesso que a cama e as cobertas convenciam mais,

Mas o tempo não perdoa, precisei sair caminhando abaixo do choro das nuvens,

O guarda-chuva colorido parecia uma aquarela naquele dia cinza,

Fui surpreendido pelo vento, seguia me molhando pela rua,

Senti aquelas gotas frias tocando minha pele,

A roupa foi colando no corpo,

A calçada irregular não permitia correr,

Um carro passou apressado em uma poça d’agua e a lama espirrou,

Olhei feio para o vidro do carro, mas sorri,

Eu estava ali, eu sentia frio, sentia a chuva me molhando,

Mas me sentia vivo, porque eu sentia...

Era o aroma da vida,

Dos dias secos e outros molhados,

Era o tempero do mundo.

Outro dia vi o sol pela janela, um dia que anunciava sorrisos em frente ao mar,

No caminho, as flores coloridas pareciam aplaudir o espetáculo do sol,

O vento pela janela do carro me lembrava as carícias daquelas mãos de veludo, imagens na memória,

Era uma tarde em que sozinho observava a dinâmica das ondas do mar,

A maré em sua dança, parecia musicar a valsa, um para lá um para cá, enchia e esvaziava,

Os pensamentos voavam como as gaivotas plainando pela superfície que intercalava o verde com as brancas espumas,

Sentado sobre o trono de areia, sentia que ela era receptiva ao calor do sol, e ao frescor das águas salgadas,

Casais na praia se abraçavam e se embaraçavam em suas felicidades,

Eu, sozinho na areia fechei o rosto como os dias de verão anunciam as tempestades,

Mas após sorri, porque sentia o ar, o sol e a canção do mar,

Em que pese desejar alguém para tudo aqui compartilhar, me lembrei das pérolas escondidas do mar, encontradas pelos dispostos,

E assim me sentia vivo, porque eu sentia...

Era o aroma da vida,

Dos dias secos e outros molhados,

Era o tempero do mundo.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 08/09/2016
Código do texto: T5754938
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