ERA O AROMA DA VIDA
Passei dias olhando a chuva pela janela,
Confesso que a cama e as cobertas convenciam mais,
Mas o tempo não perdoa, precisei sair caminhando abaixo do choro das nuvens,
O guarda-chuva colorido parecia uma aquarela naquele dia cinza,
Fui surpreendido pelo vento, seguia me molhando pela rua,
Senti aquelas gotas frias tocando minha pele,
A roupa foi colando no corpo,
A calçada irregular não permitia correr,
Um carro passou apressado em uma poça d’agua e a lama espirrou,
Olhei feio para o vidro do carro, mas sorri,
Eu estava ali, eu sentia frio, sentia a chuva me molhando,
Mas me sentia vivo, porque eu sentia...
Era o aroma da vida,
Dos dias secos e outros molhados,
Era o tempero do mundo.
Outro dia vi o sol pela janela, um dia que anunciava sorrisos em frente ao mar,
No caminho, as flores coloridas pareciam aplaudir o espetáculo do sol,
O vento pela janela do carro me lembrava as carícias daquelas mãos de veludo, imagens na memória,
Era uma tarde em que sozinho observava a dinâmica das ondas do mar,
A maré em sua dança, parecia musicar a valsa, um para lá um para cá, enchia e esvaziava,
Os pensamentos voavam como as gaivotas plainando pela superfície que intercalava o verde com as brancas espumas,
Sentado sobre o trono de areia, sentia que ela era receptiva ao calor do sol, e ao frescor das águas salgadas,
Casais na praia se abraçavam e se embaraçavam em suas felicidades,
Eu, sozinho na areia fechei o rosto como os dias de verão anunciam as tempestades,
Mas após sorri, porque sentia o ar, o sol e a canção do mar,
Em que pese desejar alguém para tudo aqui compartilhar, me lembrei das pérolas escondidas do mar, encontradas pelos dispostos,
E assim me sentia vivo, porque eu sentia...
Era o aroma da vida,
Dos dias secos e outros molhados,
Era o tempero do mundo.