NÃO ME LEVE A MAL

Não me leve a mal se eu não dei crédito a sua ilusão,

É que já me molhei tanto na chuva, que aprendi a sentir o cheiro dela se aproximando pelo vento,

Então eu corro para outra direção, onde eu não possa ouvir suas mentiras,

Eu sei que você não deposita em mim os seus sonhos e desejos,

Veja, o tempo não pausa, não posso gastá-lo como e com um inconsequente,

Querido, não me leve a mal, mas eu prefiro um jantar à luz de velas com a solidão,

Eu sei que para você, ganhar é o que importa, e que eu seria apenas mais um troféu de suas conquistas,

Mas isso não é vencer, isso só te faz um colecionador, que no fundo está vazio e desesperado,

Não nego que te amava, mas se eu pudesse voltar ao tempo, eu anularia esse equívoco,

Entretanto, eu percebi a tempo, e corri como um fora da lei foge ao ouvir a sirene,

Não sou mais como aquele velho cãozinho que corria atrás, e mesmo maltratado, ainda fazia festa por você,

Não há amor, também não há raiva, apenas indiferença,

Jamais o tratarei mal, entretanto meu sorriso revela apenas educação,

Minha fuga não é covardia, apenas aprendi a lutar em silêncio por minha defesa,

Aprendi a te apagar como a onda leva um escrito na areia da praia,

Para você nem as lembranças, tampouco esperança em seu amor,

Porque não sou mais pássaro ferido, e na iminência de um perigo eu posso voar.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 07/08/2016
Código do texto: T5721821
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