DE INVERNO A VERÃO.
Já fui vida de frio
Já fui sereno eterno
Já fui vento vadio
Nas folhas do meu caderno
As linhas se encolhiam
As letras todas tremiam
Com a palavra inverno.
Já fui noites escuras
Já neblinei de tristeza
Molhei o pranto em mim
Fui chuva e correnteza
Fui madrugada de vento
Fui solidão no relento
Fui gota de água presa.
Já orvalhei escondido
No capinzal do desejo
Já chuvisquei iludido
Ao garoar no teu beijo
Fui enxurrada de paixão
Já solucei trovão
Fui lágrima fria em cortejo.
Fui uma tarde nublada
Na rua da minha amargura
Já fui uma nuvem inflada
De uma saudade escura
Fui umidade de sonho
Fui um frio tristonho
Geei na minha loucura.
Fui folha seca molhada
Fui pingos d'água no chão
Fui pouca água empossada
Nas grotas do coração
Verti veios de mágoa
Banhei o dor com a água
Da chuva do meu perdão.
Sou hoje afeto escaldante
Do peito que transpirou
Sou a boca ofegante
Que amor murmurou
Sou o suor do afã
Em mim tem o amanhã
De um inverno que já passou.
Sou hoje vida aquecida
Sou brasa e gaz da paixão
Sou chama de riso acendida
Carinho em combustão
Sou o calor do desejo
Sou quente sol no teu beijo
Sou hoje todo verão.