DE INVERNO A VERÃO.

Já fui vida de frio

Já fui sereno eterno

Já fui vento vadio

Nas folhas do meu caderno

As linhas se encolhiam

As letras todas tremiam

Com a palavra inverno.

Já fui noites escuras

Já neblinei de tristeza

Molhei o pranto em mim

Fui chuva e correnteza

Fui madrugada de vento

Fui solidão no relento

Fui gota de água presa.

Já orvalhei escondido

No capinzal do desejo

Já chuvisquei iludido

Ao garoar no teu beijo

Fui enxurrada de paixão

Já solucei trovão

Fui lágrima fria em cortejo.

Fui uma tarde nublada

Na rua da minha amargura

Já fui uma nuvem inflada

De uma saudade escura

Fui umidade de sonho

Fui um frio tristonho

Geei na minha loucura.

Fui folha seca molhada

Fui pingos d'água no chão

Fui pouca água empossada

Nas grotas do coração

Verti veios de mágoa

Banhei o dor com a água

Da chuva do meu perdão.

Sou hoje afeto escaldante

Do peito que transpirou

Sou a boca ofegante

Que amor murmurou

Sou o suor do afã

Em mim tem o amanhã

De um inverno que já passou.

Sou hoje vida aquecida

Sou brasa e gaz da paixão

Sou chama de riso acendida

Carinho em combustão

Sou o calor do desejo

Sou quente sol no teu beijo

Sou hoje todo verão.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 05/08/2016
Código do texto: T5719892
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.