RENASCENCE

Se há tempo para se desperdiçar com sensações de ódio,

deve haver tempo para se tornar, do amor, majoritário sócio,

desarmar almas que talvez encontre na estrada dos teus passos,

descer da cruz teu corpo e ao chão devolvê-lo, dos teus braços

cansados descansar o corpo do passado e, enfim, libertá-lo...

Se há tempo para escrever seu diário com sangue fresco,

deve haver tempo para que corte os arames que o cerco

da espiral messiânica lança em torno da multidão atônita,

acertar as contas com deuses mortos e hostes faraônicas,

retirar de tua fronte a coroa de espinhos e pensá-la e curá-la,

onde houver possibilidades não deixar ninguém neutralizá-las...

Se há tempo em teu coração já em tantas voltas gasto e aflito,

deve haver dentro de tua voz o espanto que resultará no grito

que acordará a raça que esmagará os escorpiões insidiosos,

o semideus de um tempo já vindo para a revolução dos povos,

o canto secreto passado de átomo à átomo até que chegasse aqui,

alvoroço da criação por saber-se renovada em novos sonhos,

a morte da eternidade e o começo de tudo que haverá de surgir...

Sim, sim para o sim que tua boca dirá ao pássaro que voa,

sim para tuas mãos estendidas e que a si mesmo coroa

consagrando a libertação aos teus e aos que virão;

sim para teus pés nus de grilhões e abraçados à terra,

sim para teu voo infinito sobre a cálida e única esfera

que grita de amor quando pulsa dentro do teu coração...