TÃO PERTO E LONGE DAQUI

Longe daqui, onde as maçãs maduram no pés,

há um riacho que corre manso e feliz,

perto dele uma casa de madeira e varanda,

lá dentro duas pessoas conversam,

se amam, se respeitam, riem,

eu, aqui fora, escuto música,

sinto o vento que corre,

a manhã que chega,

a noite que morre...

Perto daqui, onde cães convivem com ratos,

há uma madeireira que abre de madrugada,

cinco ou seis homens carregam toras,

fumam, cospem, riem, xingam,

brigam, andam armados,

eu, de fora, escuto tudo,

o choro da madeira,

vejo a seiva de velhas árvores,

o sangue úmido de folhas virgens,

o barulho da serra a decepar,

o céu, triste, chove,

lágrimas me vem aos olhos,

penso que os homens estão ficando loucos,

não há nenhum benefício nessas mortes,

a serra vai e vem, me sento na calçada,

escuto meu coração seguir junto

com as ramas espalhadas pelo chão...