AOS MORANTES
Rezo, oro, peço,
abro os braços e miro o distante céu,
canto cânticos de bardos antigos,
as nuvens as retiro como fossem véus,
nenhum palácio episcopal baila nos ares,
nenhuma construção humana pastoral,
só o silêncio celeste à nós, a mim,
sacrossanto animal...
Volto-me para as invenções humanas,
abrir os chacras, falar com divinas Dianas,
medito, respiro como ao ar convém,
como ervas e flores e ramas,
o corpo canta a canção do bem...
Quase me ponho distante dessa estranha raça
que solta, como pulgas, palhaços na praça,
fez da morte o ritual mais próximo da ressurreição,
faz um carnaval com almas que rodopiam pelo chão...
Infelizmente tenho que lhes contar,
meus caros e conscientes morantes deste planeta,
que não há nenhum plano para nos salvar,
apenas a decadência desta raça quase escorreita,
a boca do espaço e seus dentes cheios de gravidade
a esperarem por nossas almas em saladas feitas,
e lá, no fundo de nós mesmos, espiamos nossos olhos
em nosso rosto, a nos espiar...