TÃO PERTO UNS DOS OUTROS

Estamos cansados de notícias, alardes, alarido,

de tantos êxodos, fugas, escapes, estampidos,

cansados de ver quem parte sem chegar a lugar algum,

afundamentos, tropeços, rebuliço, naufrágios,

como se fossem marinheiros cheios de rum...

Precisamos de tempo mas o tempo não precisa de nós,

soletramos as partituras mas estamos perdendo a voz,

precisamos de risos mas os palhaços foram expulso dos circos,

soletramos novos sonhos mas os pesadelos são antigos...

Estamos refugiados dentro dos acampamentos, na sala,

debaixo das mesas nos guardamos das balas perdidas,

o medo, dizem, não tem cheiro, mas seu suor exala,

o ceifador veio mais cedo em busca de novas vidas...

Estamos engaiolados, em casa, à espera dos assaltantes,

regamos nossos jardins mas só nascem espinhos,

estamos tão perto uns dos outros, mas não o bastante,

eles não sabem o que fazem, nem com o pão,

nem com o vinho...