Raízes

Preto, parda, indígena e espanhol toda história de um país refletida nos fios que da minha cabeça brotam,

no meus traços, no meu sangue, num modo todo de ser.

Já fui chamada de macaca quando pequena,

de porca quando adolescente e só depois me denominaram mulher.

Entendi a crítica, compreendi a demonização/ções em que classificavam e condenavam minha existência, enquanto retrocedia.

Hoje as marcas, os xingamentos, já não mais me assustam,

passei a aprender a nomeá-los e devolve-los a seus respectivos algozes,

mal feitores, senhores e senhoras do engenho de dentro.

A pele que me cobre não é da cor da noite, preta-assim,

preta-azulada, preta-rubra, preta clareada,

a pele que me veste é de um preto claaaaaro, bege, desses que só se refletem no cabelo e no bolso.

Mezzo branca, mezzo albina, mezzo bicho, mezzo planta.

E cada vez que me planto, que debruço sobre o algum pranto,

rego-me e aprofundo minha raiz.

Raízes, que já não são apenas metáforas.

São carne, osso, pele, sangue, histórias e saberes.

histórias essas que vibram, cantam, dançam e reverberam.

estórias de um mundo em mim, história que teço em constante diálogo com esse universo, enfim.

e de todos os menos e mais, apenas luto e agradeço por existir.