Retrato de mulher
Rose é frágil como uma rosa
Que morre de solidão
Mas depois se renova...
Sucateia o coração
Quando o assunto é o amor
E o coloca sempre à prova.
Não gosta do passado
E o esconde
Por ser tristonho e obscuro
Vibra com o futuro
Mas nada responde.
Não diz que já foi escrava
um dia
Nas mãos de um rude senhor
Que mesmo contrariado
Deu-lhe carta de alforria.
E sempre se entrega a lembrança
Da menina, doce criança.
Estuprada pela pobreza
e a fome
Que sonhava com nobreza
Queria ter esperança
Mas como?
Se nem tinha nome.
Quando remexe os papéis
Experimenta os anéis
Algozes que lhe prendia;
E chora na beira da cama
Uma lágrima que declama
Um sorriso de alegria
Pois no meio da desgraceira
Lembra-se da dor passageira
Que transformava em poesia...
Lembra que já foi “Amélia”
A triste mulher de verdade
Que carregava a ansiedade
De um dia virar camélia...
E Rose se tornou tantas coisas...
Com tantas coisas vividas
E virou grande guerreira
Nos embates desta vida.
Hoje é conselheira
Na fina flor da idade
Símbolo de mulher brasileira
Esboça sutil vaidade:
Pois venceu o preconceito
A dura discriminação
Tapou a ferida no peito
Tomou o destino na mão
E cursou a faculdade
Fez mestrado, pós-graduação
E hoje está formada
Nos assuntos do coração.
E a sua triste história
Ganhou fama, ganhou glória
E tornou-a grande dama
A tremular seu diploma
Nos murais desta cidade
E o seu rosto denuncia
Rose é tudo o que se quer
Felicidade, fantasia
Um retrato de mulher!
“Onde existe amor,
não há impossibilidades”.