Exilada
estou perdida numa selva ingrata
minha vista embaça
com a luz morta dos carros,
a incompetência das placas
esconde o arco íris
ararinha-azul só vejo em embalagens
de lápis de cor e giz e o zigue-zague
nem vem mais por aqui,
porque poça d'água
atrai Aedes Aegypti
o encanto da vida
ficou a milhas e milhas da cidade,
o chá da caixinha
substituiu o capim santo
e também o milagre
dou até sorte e encontro
a dormideira nascendo espontânea
nas brechas do asfalto, fecha as folhinhas
ao leve toque do tato e então me alegro
um tantinho assim
vez ou outra também vêm o beija-flor
brilhar de verdade e fazer publicidade
de que a vida vale à pena
e ainda há beleza nestes jardins