O NOCAUTE

Após o nocaute,

tu foste o beijo na lona.

Deixaste a dor envolver-te,

rompeste os cordames do corpo.

Tu, o lutador após o nocaute,

viste nascer flores em supercílios cortados,

nervos penetraram a terra,

e concentrado em um queixo de vidro

enfim estilhaçado,

também fragmentaste a ti mesmo

e regrediste nas categorias do boxe.

Classificado como peso galo,

chegaste ao pena,

ao mosca,

a leveza,

suor evaporado da tua luva de pugilista.

Então assimilaste a queda

enquanto outros gongos soaram

e um espasmo comovente

saia do teu peito asfixiado

como um triplo mortal

rumo aos arrabaldes do mundo

e gritaste:

“Não há mais protetores bucais!

Grandes são os tablados!

Grandes são os tablados e as plateias.”

Mas não foi por isso somente

que o povo aplaudiu

ao acordaste longe,

dentro da massa que se desfazia sobre o piso

e entre duas sapatilhas

brilhando para os teu olhar submisso.

DO LIVRO: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 13/06/2016
Reeditado em 26/06/2018
Código do texto: T5665660
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.