O NOCAUTE
Após o nocaute,
tu foste o beijo na lona.
Deixaste a dor envolver-te,
rompeste os cordames do corpo.
Tu, o lutador após o nocaute,
viste nascer flores em supercílios cortados,
nervos penetraram a terra,
e concentrado em um queixo de vidro
enfim estilhaçado,
também fragmentaste a ti mesmo
e regrediste nas categorias do boxe.
Classificado como peso galo,
chegaste ao pena,
ao mosca,
a leveza,
suor evaporado da tua luva de pugilista.
Então assimilaste a queda
enquanto outros gongos soaram
e um espasmo comovente
saia do teu peito asfixiado
como um triplo mortal
rumo aos arrabaldes do mundo
e gritaste:
“Não há mais protetores bucais!
Grandes são os tablados!
Grandes são os tablados e as plateias.”
Mas não foi por isso somente
que o povo aplaudiu
ao acordaste longe,
dentro da massa que se desfazia sobre o piso
e entre duas sapatilhas
brilhando para os teu olhar submisso.
DO LIVRO: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"