ESTIMA
Quando me faltou a estima,
mais do que a avaliação de um caminho náutico,
algo em mim foi casco detonado
e bote salva-vidas que não salvou.
Sem a estima,
mais do que um exame da latitude a navegar,
tudo foi alto grau de excesso e farsa;
sendo corpo achado na praia,
senti bocas que ofereciam ar
e julguei nas bocas uma oferta do amor,
mas era um amor oceânico,
musgo que se prega à flor dos escolhos.
E porque perdi a estima,
mais do que uma sensação de importância,
cheguei a uma zona de maré enchente
ao mundo do preamar
onde afundei
e tornei-me um outro polvo
para sugar as ostras
(as minhas ventosas em contato
não se tornaram uma linguagem afetiva).
Mas um dia a estima me retornou,
e retornou porque apenas me reconheci,
eu atrai até anfíbios,
fui buscar e inaugurei
o carnaval da conciliação:
todos os seres estavam em seus lugares
para a passagem da minha alegoria,
mancha no radar dos pesqueiros,
o enorme cardume de mim mesmo.
DO LIVRO: BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"