ESTIMA

Quando me faltou a estima,

mais do que a avaliação de um caminho náutico,

algo em mim foi casco detonado

e bote salva-vidas que não salvou.

Sem a estima,

mais do que um exame da latitude a navegar,

tudo foi alto grau de excesso e farsa;

sendo corpo achado na praia,

senti bocas que ofereciam ar

e julguei nas bocas uma oferta do amor,

mas era um amor oceânico,

musgo que se prega à flor dos escolhos.

E porque perdi a estima,

mais do que uma sensação de importância,

cheguei a uma zona de maré enchente

ao mundo do preamar

onde afundei

e tornei-me um outro polvo

para sugar as ostras

(as minhas ventosas em contato

não se tornaram uma linguagem afetiva).

Mas um dia a estima me retornou,

e retornou porque apenas me reconheci,

eu atrai até anfíbios,

fui buscar e inaugurei

o carnaval da conciliação:

todos os seres estavam em seus lugares

para a passagem da minha alegoria,

mancha no radar dos pesqueiros,

o enorme cardume de mim mesmo.

DO LIVRO: BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 30/05/2016
Reeditado em 05/07/2018
Código do texto: T5652103
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.