Sertaneja
O sol de outros dias brilha
na cabeça de pano da mulher.
Ela, que desdenha Newton
e traz na cabeça a lata d´água.
Ah! Que pés mais rachados
esses que afundam os chinelos na terra.
Do amor de primavera,
a prole e o marido,
antes pouco suave,
agora mais bruto.
As vasilhas cheias do esforço
estão cada qual num canto do mundo
de onde se vê da janela, à noite
a lua cheia
no outro lado da cerca.
No sarilho do poço
puxa de volta as lágrimas,
somente.
A água na cacimba,
tão longe de casa.
No caminho, os facheiros, o xique-xique,
o mandacaru, os cardeiros...
Só eles resistem.
Fora, as árvores baixas,
colericamente espinhadas.
Às manhãs no pilão, soca as mágoas
atravessadas na alma.
À tarde, enquanto o marido e os filhos
na roça cultivam o milho,
anda a estender os trapos
no varal repuxado entre os troncos.
Tem a fé bem maior
do que aquilo que falta.
Ao contrário, o querer,
tão menor
do que um grão de mostarda.
Esfrega com as costas das mãos
a poeira deitada nas pálpebras.