RESÍDUOS SÓLIDOS

Quando José tinha sete anos,

tinha medo de ser lixeiro quando crescesse;

lixeiros não eram astronautas,

(embora caminhassem sobre entulhos);

lixeiros apareciam demais,

e seus uniformes borravam tudo;

lixeiros carregavam um mau cheiro

que significava

uma compactação do lixo

à disposição de todos,

de José que via lixeiros semanalmente,

e trazia o bagaço de uma timidez,

que poderia envolve-lo em algum aterro.

José infelizmente cresceu,

seu medo foi inútil,

ele se tornou um gari,

embora com alvos diferentes;

coletou a própria vida,

mal ensacada;

catou tudo que lhe foi parte

e esteve à frente como ruína

(seu casamento

que se findou como um caco,

saudades não recicláveis

e outras sujidades pertinentes).

Rejeitou tudo

para responder no final:

“Eu pude me descartar completamente.

Ah, pelo menos limpo e varrido

- ainda que nulo e oculto -

no âmago”.

DO LIVRO:"A CRIANÇA, SUBSTANTIVO SOBRECOMUM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 02/05/2016
Reeditado em 28/09/2019
Código do texto: T5623286
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