Bagagem

Não sei quantos chãos tenho

Cada instante um sob os pés

Continuamente não me retenho

Nunca me achei, sempre revés

De tanto ser, só sou um lenho

Em borralho de alma, ao invés

De só vê que ruim é ser inhenho

Vejo o que sinto não é o que és

Uma vontade de ter empenho

Atento a cada tal lugarejo

Me torno eles e não a mim

Metamorfoseado no desejo

Sou eu, outro, neste jardim

E assim tão distinto cenário

O meu ser piorra sem fim

Diversos, só e questionário

Julguei o que sinto, enfim

Os chãos são o meu plenário

Deles levo um bocado, deixo

Um bocado, enfim, vou indo

Pois o que segue não queixo

Nem prevendo, nem provindo

Vou assistindo à passagem

Nesta de chegando e partindo

Vou lendo, escrevendo a paragem

Sem rever o conteúdo advindo

Em cada estória faço a bagagem

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado

Abril, 2016 - Cerrado goiano

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 25/04/2016
Reeditado em 02/11/2019
Código do texto: T5615554
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