Fortaleza
minha austera infância
se encarregou de amadurecer
precocemente minhas manhas
agilizou reflexos
expandiu a visão periférica
calejou a pele frágil dos meus dedos
o amargo do café
substituiu cedo
o troco doce das balas
o olhar maldoso dos homens
sobre uma flor nem sequer desabrochada
denunciou as intenções baixas
por trás das sorridentes máscaras
minha casa foi se construindo a muros altos
heras vivas de robustos caules
espinhos grossos zelavam minha sensibilidade
o brilho no olho se pôs fugaz, ágil intimidador
dos toscos invasores da minha cidade
minha fortaleza dispensa armas
faz-se somente da cavalaria verde bem enraizada
com suas lanças envenenadas de seiva mágica
fertilizante da fé no instinto e intuição selvagem
cultivadas na rigidez dos solos áridos
e regadas nas águas puras de minha emotividade