Negro
Avistava
o farol dos carros,
farejava a vida no asfalto,
amava comprimidos
e mesas brancas.
Negro!
Chamaram-no de animal,
bicho estranho de moldes singulares,
desejo de pecado e posse,
desejo de todos os olhares.
Negro!
Clamaram pelos espíritos,
afiados chicotes de além-mar,
cruzes, coroas...
São homens de fé os
teus assassinos, rapaz.
Avistava o farol dos mares,
renegava o passado de clausura,
amava a terra e o sabor dos seios,
filho da pátria,
filho da puta.
És herói, mas teus irmãos te escondem.
És deus, mas os rituais te procrastinam.
És Brasil, mas teus filhos são tão estrangeiros.
Negro!
São mentirosos os patriarcas que tua terra erigiu,
são desnecessários os mitos que tua terra floresceu,
são metafísicos os teus gemidos de liberdade
e nunca morres.
Como diria o poeta:
Você é duro José!