OUTRA FAÇANHA

Era algo assim como estar fora do mapa.

Algo tão excluído quanto um anteontem à esquerda,

depois de vinte quilos de poente

de uma flagrante tarde gordurosa.

Mas fazia silêncio

e eu conclui: não sou mais o mesmo.

Também não via o que estava à frente

porque existia muito ao meu redor.

Havia o novo, o distante e óculos inquebráveis!

Passava através de mim o acolá

e o diáfano

A noiva conversava de um celular no Rio

com o noivo no metrô em Paris.

A foto da galáxia

e um rastro de estrelas

eram inacessíveis espaços sem dor

e eu não chegava mais longe,

apenas concluia: envelheci.

Mas de repente, havia uma calma em não estar morto;

em saber que a pele se enruga

mesmo nas horas de amor

em ver que a vida poderia prosseguir

mesmo sem o limite

de uma tabuada infantil.

E por isso quis sair

sem perder o contato,

como se eu pudesse alterar

as sete chagas de algum Cristo imaginário.

E assim algo que se conectou

Ouvi um clique para abrir,

era um “zoom” de setenta anos,

um modo leitura,

a criação de uma imensa luz

para tardes precárias.

Tornei-me uma árvore luminosa.

Do livro:" A criança, substantivo sobrecomum"

e-mail: phcfontenelle@gmail.com