CHUVA PUNGENTE
Chove
e teu coração quer se precipitar,
transbordar
até amar o espontâneo,
e criar versos caudalosos
que falem sobre sentimentos de homens
e nadem ninfetas.
Tu te abres para a chuva,
para o pluviolirismo,
que poesia é ribeira íntima,
contudo, vacilas e já te represas.
Descobres o teu lago concentrado.
A chuva prossegue
e teu corpo então revela subterrâneos,
que recebem outro aguaceiro de palavras,
não obstante, há uma paixão suja,
lama escura qual mel ruim
que se impregnou ali.
Os poemas não chegam.
Os subterrâneos são uma lembrança de favos.
O poema é abelha ordinária.
Isto foi quase uma faísca poética.
A chuva cessa
e um disparo ecoa
em paredes secas,
quando um vapor luminoso -
lá fora - emana do asfalto.
Pronto. Teu peito agora quer se descarregar.
ser um elemento explosivo,
induzir-te ao movimento,
Atingir todos os alvos,
pelas cápsulas de certos poemas.
Poemas armazenam pólvora emocional,
a descarga pode ser quase patética.
Como viver dentro dessa instabilidade?
Nesse instante o peito cilindro
arma-se de munição.
Tu acionas o mecanismo
e o gatilho
do verso oxidado,
dissolve-se.
Do livro: Borboletas noturnas não existem
phcfontenelle@gmail.com