CHUVA PUNGENTE

Chove

e teu coração quer se precipitar,

transbordar

até amar o espontâneo,

e criar versos caudalosos

que falem sobre sentimentos de homens

e nadem ninfetas.

Tu te abres para a chuva,

para o pluviolirismo,

que poesia é ribeira íntima,

contudo, vacilas e já te represas.

Descobres o teu lago concentrado.

A chuva prossegue

e teu corpo então revela subterrâneos,

que recebem outro aguaceiro de palavras,

não obstante, há uma paixão suja,

lama escura qual mel ruim

que se impregnou ali.

Os poemas não chegam.

Os subterrâneos são uma lembrança de favos.

O poema é abelha ordinária.

Isto foi quase uma faísca poética.

A chuva cessa

e um disparo ecoa

em paredes secas,

quando um vapor luminoso -

lá fora - emana do asfalto.

Pronto. Teu peito agora quer se descarregar.

ser um elemento explosivo,

induzir-te ao movimento,

Atingir todos os alvos,

pelas cápsulas de certos poemas.

Poemas armazenam pólvora emocional,

a descarga pode ser quase patética.

Como viver dentro dessa instabilidade?

Nesse instante o peito cilindro

arma-se de munição.

Tu acionas o mecanismo

e o gatilho

do verso oxidado,

dissolve-se.

Do livro: Borboletas noturnas não existem

phcfontenelle@gmail.com

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 21/02/2016
Reeditado em 06/12/2021
Código do texto: T5550735
Classificação de conteúdo: seguro