UMA VIDA

Ao longo do dia,

transpirei.

Revalidei meus instintos.

Adaptei-me ao reino animal

e meu corpo,

casamata inacessível,

abriu-se.

Ao longo do dia,

estanquei em mim a secreção que negava

um sentido de potência.

Projetei-me para a ação.

Dancei sobre a terra

como um iguana encantado,

durante a troca da pele.

Lépido.

Ao longo do dia,

integrei-me ao canto das cigarras.

Produzi calor que penetrou o solo.

Revelei o fluxo das nascentes.

E já rebento da luz,

entreguei o meu corpo

ao ocaso desse dia,

caos.

Do livro: "Borboletas noturnas não existem"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 19/02/2016
Reeditado em 27/05/2018
Código do texto: T5548351
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