UMA VIDA
Ao longo do dia,
transpirei.
Revalidei meus instintos.
Adaptei-me ao reino animal
e meu corpo,
casamata inacessível,
abriu-se.
Ao longo do dia,
estanquei em mim a secreção que negava
um sentido de potência.
Projetei-me para a ação.
Dancei sobre a terra
como um iguana encantado,
durante a troca da pele.
Lépido.
Ao longo do dia,
integrei-me ao canto das cigarras.
Produzi calor que penetrou o solo.
Revelei o fluxo das nascentes.
E já rebento da luz,
entreguei o meu corpo
ao ocaso desse dia,
caos.
Do livro: "Borboletas noturnas não existem"