DEPOIS DO BRINCO

Depois do brinco, depois do lóbulo, depois do furo:

esconde-se Deus nas coisas mínimas.

Depois do brinco, do lóbulo, do furo:

Deus parou de existir.

Por isso, ele é leve e pesado,

beijo de amor em lábios esmagados.

Depois do oceano, depois do rio, depois do

afluente menor:

Deus ama peixes estéreis.

Depois do oceano, do rio, do afluente esgotado:

lá vai pelo meio-fio outra sentença divina.

Por isso, ele é líquido e gasoso,

Zeppelin sem rumo sobre as cidades.

Sim, Deus tem pouca coerência.

Eu sou humanamente postiço.

Poderei ser bom ou mau,

alegre e virótico.

Deus procura algo,

Atrás do escultor, atrás da fé, atrás da imagem

de São Sebastião sem flechas.

Deus não sabe mais o que é Deus,

o que é pedra-sabão.

Do livro "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 15/02/2016
Reeditado em 03/12/2021
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