DEPOIS DO BRINCO
Depois do brinco, depois do lóbulo, depois do furo:
esconde-se Deus nas coisas mínimas.
Depois do brinco, do lóbulo, do furo:
Deus parou de existir.
Por isso, ele é leve e pesado,
beijo de amor em lábios esmagados.
Depois do oceano, depois do rio, depois do
afluente menor:
Deus ama peixes estéreis.
Depois do oceano, do rio, do afluente esgotado:
lá vai pelo meio-fio outra sentença divina.
Por isso, ele é líquido e gasoso,
Zeppelin sem rumo sobre as cidades.
Sim, Deus tem pouca coerência.
Eu sou humanamente postiço.
Poderei ser bom ou mau,
alegre e virótico.
Deus procura algo,
Atrás do escultor, atrás da fé, atrás da imagem
de São Sebastião sem flechas.
Deus não sabe mais o que é Deus,
o que é pedra-sabão.
Do livro "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"