AQUI SE MORRE DE CÂNCER

Aqui se morre de câncer,

até as velinhas de aniversários caem

com o cancro do pavio.

mas, se repararmos,

nem tudo é furo e tumor.

Ostras não têm câncer;

labirintos perderam o inchaço

e cristais de gelo formam o hexagonal

não o furúnculo.

E se reparamos melhor:

zigotos estão além dos abscessos

assim como a língua dos tamanduás,

não perdem tempo

para os carcinomas,

(eles não se espalham pelo mundo como formigas).

E os ciclopes, principalmente eles,

- vivos em histórias infantis -

perderam um olho,

mas não viram qualquer ulceração

na retina que sobrou.

As crianças riem.

Aqui se morre de câncer,

mas nem tudo é furo e tumor.

Uma bola de gude

que antes de um caroço se chama também

pirosca, bugalho, boleba, bolega e carolo,

bate no calombo

e dali não sai sequer um eco.

O tumor não brinca,

nem chega ao círculo do jogo.

Para que se preocupar?

Aqui se morre de câncer,

mas há tantas variantes para o consolo, amigo.

O doente mesmo pode comer antes

abóboras

frutos das aboboeiras.

São quase edemas,

mas se mantém no limite do bago.

Do livro:" A criança, substantivo sobrecomum"

phcfontenelle@gmail.com

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 27/01/2016
Reeditado em 18/07/2018
Código do texto: T5524842
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