Poeminha suicida

Acorda, vai ver o sol

Acorda, lava a cara e a louça

Toma coragem e prepara a comida

Tenta colocar amor no que faz

Segura essa lágrima

Engole esse choro, como mandava tua mãe

E olha pra frente

Encara o abismo

O siso que já não dói

O amor que já não sentes

A vida com suas agonias

As agonias em tua vida

Tudo vale a pena

Tudo?

Quem disse isso?

Volta ao analista

Revisa teus sonhos

Revista os bolsos da tua memória

E tentes achar razão para o que não tem.

Troca de casa

Troca de par

Troca de lugar

Coloca arroz com feijão

Açúcar com banana, sem te esqueceres da canela

Adoça o amargor do cotidiano

Tinge aquela roupa velha

Torna a escutar a mesma música

Revive os teus dias de ilha

De escadas que sequer existiam

Colhe rosas e experimenta os espinhos

Toda beleza tem um quê

Toda tristeza tem um por que

Cala

Calada, já estás errada

Engole o choro, menina.

Lembra da cinta que te castigavam as costas

Das vezes em que ficastes sozinha sem ter aonde ir.

Lembra que teus filhos puxaram ao pai

Que tua dor não tem divisão

E segue.

Quando teus pés tocarem o mar,

Não hesites.

Quem disse que seria doce?

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 23/01/2016
Reeditado em 22/02/2021
Código do texto: T5520488
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