Poeminha suicida
Acorda, vai ver o sol
Acorda, lava a cara e a louça
Toma coragem e prepara a comida
Tenta colocar amor no que faz
Segura essa lágrima
Engole esse choro, como mandava tua mãe
E olha pra frente
Encara o abismo
O siso que já não dói
O amor que já não sentes
A vida com suas agonias
As agonias em tua vida
Tudo vale a pena
Tudo?
Quem disse isso?
Volta ao analista
Revisa teus sonhos
Revista os bolsos da tua memória
E tentes achar razão para o que não tem.
Troca de casa
Troca de par
Troca de lugar
Coloca arroz com feijão
Açúcar com banana, sem te esqueceres da canela
Adoça o amargor do cotidiano
Tinge aquela roupa velha
Torna a escutar a mesma música
Revive os teus dias de ilha
De escadas que sequer existiam
Colhe rosas e experimenta os espinhos
Toda beleza tem um quê
Toda tristeza tem um por que
Cala
Calada, já estás errada
Engole o choro, menina.
Lembra da cinta que te castigavam as costas
Das vezes em que ficastes sozinha sem ter aonde ir.
Lembra que teus filhos puxaram ao pai
Que tua dor não tem divisão
E segue.
Quando teus pés tocarem o mar,
Não hesites.
Quem disse que seria doce?