A cantiga do boêmio

Nem bem tenho meus dezenove anos

E, como se a morte já se prenunciasse,

Mórbida palidez cobre meu rosto

Como se de um fantasma vissem vós a face...

Caminho roto e sem perspectivas

E nos bolsos não tenho nenhum dinheiro.

Só entrego-me à plácida indolência

E espero a amiga Morte o dia inteiro

Sem que ela venha. Então, acendo o fogo

E trago um saboroso charuto,

Contemplando a fumaça que se evapora

Qual nosso tempo de vida a cada minuto...

Nunca beijei eu lábios de donzela...

Pois só encontrei cocotas inconstantes!

Prefiro o gargalo da garrafa de vinho,

Companheiro meu a qualquer instante.

Mas, ainda assim, eu vivo a sonhar

Com alguma pálida Laura ou Beatriz;

Sonhar com amores imaginários

À noite faz com que eu durma mais feliz...

Não obedeço a nenhum senhor,

A nenhum mestre ou a nenhum rei

(Com exceção de Deus); e estudante

De Direito, escarneço da Lei...

Faço versos, na patética esperança

De me equiparar a Byron ou Azevedo.

Tomo dez bebedeiras; são dez cantos

De um épico à moda antiga um arremedo.

Mas não dedico nada a essas menininhas

Que veneram Tati Bernardi e Caio Abreu;

Dedico-os, sim, à minha amiga Lua,

Que vela por mim no noturno breu...

Leve e despreocupado, vivo sempre

Sem me importar com nada ou ninguém...

E à noite, repouso minha cabeça

Em leito tosco; mas durmo feliz, porém...

Comerei meu chapéu puído, amigos,

Se houver coisa melhor que a boemia!

Os três preceitos para se viver feliz

São o ócio, o amor e a poesia!

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 22/04/2014
Reeditado em 04/06/2024
Código do texto: T4778388
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.