Conheça-te
 

É preciso sonhar,
Nem que essa seja a última gota de prazer.
Um brinde com a própria loucura,
Um degustar dos petiscos da solidão.
Um só, que não é de gente,
Um só que é de si.
Um só que isola-se, exausto,
Que ora por paz em meio à guerra.
Mas a paz não vem,
Só a guerra é companheira.
Então, antes só do que mal acompanhado.
Toda a harmonia será sem graça.
Seria estética sem o pecado humano,
Mas todo o conflito também se esvai.
Perde-se no movimento sem ritmo
No ondular caótico que nada faz,
No desgosto que não alimenta.
Na fome de existência
Daquele que já não quer mais ser.
E ser é tanto, pesa tanto.
Quanto alivio haveria no nada.
Não o nada da destruição,
Mas o nada antes do constituído,
O nada incriado,
Na página limpa,
No potencial puro
Que ainda não se tornou concreto.
Um nada abstrato,
Onde o vazio parece preenchido,
E nisto se baseia a aventura de tanto ser,
No exaurir-se de ser,
Do não querer.
E então a questão,
A primeira afirmação:
Não seria a negação original?
E como ser original ao negar algo?
Original é negar nenhum.
Depois de tanto,
Apenas entender
Que do contraste de ser ou não
Não existe escolha,
Há que ser.
 
06/06/2012
 
 
 
 
 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 01/09/2012
Reeditado em 19/10/2019
Código do texto: T3860648
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