Música no Ar
Resta um pouco de sonho,
Talvez sempre restará.
Vive, ou fingindo-se viver.
Pois o sonho vence o tempo,
Nos faz mais do que somos.
Pactua com as ilusões em ritmo de valsa.
Vai além da estupidez tão insípida,
E sonhar com que? Sei lá?
Por que saber? O coração é livre,
A mente é criança em descobertas,
Por que não sonhar? Enganar a dor?
Qual o pecado em fugir da dor?
E se for pecado, não seria humano?
E como é pífio ser humano,
Como é precário o nosso estado provisório.
Na eternidade não somos mais do que pouco.
E então o sonho, que faz tudo pouco importar,
Não se quer a eternidade, ela deve exaurir,
Deve ser senil demais, o efêmero é único instante,
E quanto pode haver neste pequeno momento,
Se realmente for feliz, se sorrir verdadeiramente.
Melhor os sonhos do que as utopias,
Os sonhos se vão, as utopias demoram demais.
Corpo casulo da alma, não se tem asas,
Mas o sonho pode voar, pode ir longe,
Por que o drama da morte ?
Talvez para compensar a comédia da vida.
De toda insensatez, uma prudente loucura,
Uma voz que se desfaz em murmúrios,
E silêncio, tem tudo a dizer, pois não é fala,
É música que apenas encanta.