Cabelos Brancos

 

 

Bem vinda seja a juventude que já não tenho,

De braços abertos recebo os dias mais maduros,

No expandir do espírito, e na decadência do corpo.

Morremos a cada momento, e isto é tudo.

Vivemos num confronto constante de vida e morte.

E disto tudo, o que haverá de restar?

Pois certa é apenas a incerteza de existir.

Não há nem porque sorrir ou chorar.

Havemos de ser saldos de racionalidade,

Tentaremos fugir das neuroses que nos causam o sentir,

E mesmo assim seria tolo não almejar o sentimento.

Vai além de nós o que almejamos ou queremos.

Pactuamos sem saber com os destinos, somos proféticos,

E por tanto haver por dizer, haverá sempre o não dito.

A palavra que ficou entre os lábios, perdida para sempre,

No fogo que ficou no olhar, em seu brilho belo e efêmero.

No dia em que o sol exausto de luz cobriu-se de nuvens.

E veio o frio, e afeto esquecido não surgiu,

Não marcou encontro, perdeu-se na nevoa de uma noite,

Onde etéreas brisas agasalharam as dores de uma vida,

E nem sonho ou pesadelos, apenas o prazer de dormir.

Descansar o corpo, leal companheiro de jornada,

Destinado a ser pó, pois do pó nasceu, 

Aglutinou-se pela mágica da transcendência divina,

E não pediu explicações, existiu para depois morrer.

E diante do fato, do irrestrito ocorrido,

Já se faz tarde querer saber, estocar menos ignorância,

Na ínfima alegria que oculta-se nas entrelinhas. 

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 02/06/2010
Reeditado em 07/01/2020
Código do texto: T2295065
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