O Pulsar do Coração


Como se o pulsar do coração
denunciasse que estava vivo.
Queria escutá-lo,
queria ouvi-lo em alto e bom som.
Como se a garganta
fosse caminho para conquista da liberdade.
Queria desbloqueá-la da avalanche
de palavras que estava a entupi-la.
As linhas das mãos, predestinação. 
A face humana denunciava inquietação.
Como escapar do pressentir de um destino
que sente que deve ser cumprido?
Como consolar o cérebro sonhador e idealista
das adversidades da realidade?
Ironias mentais,
zomba dos cordatos mecanismos físicos,  
sua produção de energia.
Pensa nas reações químicas
e as reações nervosas nas linhas de neurônios.
Vê-se dono de orgulho tolo,
como que a considerar
a matéria física como secundária.
De nada adianta rejeitar
o  que se tem que viver.
Melhor tentar entender,
melhor ter humildade diante da criação,
pois que é parte integrante e resultante.
Mas o pensamento é pura rebelião,
é cavalo bravio, despreza as horas.
A emoção é intolerante,
é furiosa tempestade,
torna o relógio definitivamente inútil.
Quer pensar, quer sentir,
não importando se isto o faz alegre ou triste.
É preciso compreender,
a ignorância de entendimento
o faz sentir-se aleijado.
Burila a primeira idéia,
as diferenças entre o viver cotidiano
e o existir eterno.
Pressente um confronto
entre o efêmero e o eterno,
fica eufórico e deprime-se.
Existe algo que a princípio
parece óbvio e simples,
mas que depois oculta-se em complexidade.
Irrita-se por se sentir como integrante
de um jogo de esconde-esconde,
sente-se velho demais para isto.
A imaginação entorna em sarcasmo:
viajar para as estrelas
ou dormir o sono mortal dos fósseis?
Então, não saber se enfrenta
ou foge do desafio.
Espírito de velho guerreiro,
atração pela luta.
Alma a desejar ardentemente a paz,
buscando a indiferença,
tentando recusar a oferta do destino.
A coragem quer bramir uma espada,
a fraqueza quer esconder-se
atrás de grande escudo.
Mas o arder da alma apaixonada
não dá sossego ao sangue
que flui violento para o cérebro.
O coração bate alto,
reclama intensidade de vida,
desperta os velhos instintos.
O corpo está vivo.
Tolo engano,
pensar-se capaz de paralisar o andar da vida.
Seria atropelado por seu carro veloz.
Seria um confronto?
De alguma forma sente-se desrespeitado.
Teme escravizar-se à mediocridade.
Tem vergonha do estranho orgulho.
Olha, perturbado, para o céu
e grita no silêncio de sua alma.
Temperamento bravio, força autoritária,
quer manejar as armas da filosofia,
quer entender a religião.
Em meio à sua impulsiva ira
toma contato com imensa distância.
Carente, deseja fazer parte dela.
A estranha sensação de abandono,
a fúria abranda-se
e o vendaval acalma-se em suave brisa.
Prisioneiro na carne,
ainda assim parece ouvir uma música distante,
uma harmonia perfeita.
Oprimido pela própria razão, estranha-se,
não consegue compreender a sua individualidade.
Um desajuste, um limiar entre lucidez e loucura,
tênue limite entre o real e o imaginário.
Um portal, um local indesvendável,
talvez uma fresta,
um pequeno orifício para poder olhar.
Desconfiado,
sente misturarem-se o amor e a fúria,
de alguma forma singelo e complexo.
Concluindo efetivamente estar
desejando ir,
mas sabendo ser a hora escolhida para ficar.

 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 21/05/2009
Reeditado em 06/01/2020
Código do texto: T1606591
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