Invalidez
Chega o emblemático
dia em que um reles degrau
é desafio.
É áfrica alcançá-lo.
Há palavras que
Desconhecem absolutamente
a sonoridade da
voz.
Ouvidos moucos,
ignaros que perpassam por balbúrdias
sem perceber a mínima
ondulação do
som.
Olhos imersos numa brancura transparente
e translúcida
tão sólida e densa,
onde a luz ou a ausência da luz
Não faz diferença.
As imagens são memórias táteis
a flutuarem sobre as mãos
numa expectante alma
grandiloqüente.
Chega um emblemático
dia em que as tragédias
frugais se apresentam fardadas,
bastardas e
fúteis.
A nos irromper por vaidade
ou heresia.
Ah! Mas em meus pensamentos
Sou pleno,
Sou capaz.
Não quero ter validade e nem eficácia
Quero existir por mim mesma, apenas e somente.
Acima do eixo mental mediano da platéia.
Acima do horizonte bidimensional da paisagem.
Além do reservado direito ao silêncio.
Ah! No reino pensado há um fosso profundo
Onde transbordam dragões,
magias, majestades e agonias.
E onde a pecha de inválido
Não me esbofeteia a face
Não me retira a dignidade
E nem a validade de continuar a pulsar vivo
pelos cantos.
Então, andarei por pernas que não atendem.
Subirei as escadas do improvável,
Enxergarei apesar das trevas particulares,
Ouvirei apesar do impenetrável momento,
de lucidez , tristeza ou silêncio.
E, por fim,
pronunciarei mil e uma palavras
Que não esperam a voz,
Que não esperam aflitas, o fonema,
o dilema ou a vida.
Apesar de serem partes salientes
de uma invalidez pungente.