Companheira da Noite
Companheira da Noite
Companheira amiga amante
de noites solitárias,
angustiantemente vazias
em quartos de hotéis,
em ruas e bares estranhos,
em momentos repetidamente idênticos,
silentes,
sem lembranças, sem nada.
Nos hotéis, nauseantemente padronizados,
nos quartos todos iguais,
cada um estranho à sua maneira,
tristemente estranhos,
neles encontro,
quando quero e preciso,
a companheira amiga amante
de lindas noites de ilusões e fantasias,
fugazes,
em concretudes simples e sem reparos,
sem muitas palavras,
apenas com os gestos necessários.
Paixões por prazo e preço certos,
- mas com que carinhos!...
Com que carinhos e com que amor, meu Deus!
Fingimento? Talvez,
mas com que requinte...
com que sofisticação e finura,
ternura.
A companheira amiga amante é delicada,
desconhece seus próprios sofrimentos,
- ah! como os tem, como sofre
também,
seus gestos compaixonadamente sutis.
Experiente de muitas outras noites vazias
sabe o bem que faz
aquietando desejos imensos
que se entregam ao êxtase,
tão procurado,
desejado
que já vai acabar,
inexoravelmente,
depois de poucos momentos de felicidades infinitas.
A posse e o beijo,
e a cabeça deitada no ombro
da querida companheira amiga amante,
que segura, com carinho, a mão
que ninguém mais segura
que ninguém mais acaricia
do desconhecido só,
já foi embora.
Deixou consolação suficiente,
a confortante certeza incerta de um próximo encontro.
Deixou a lembrança de um perfume, do som de uma voz,
deixou vazia a necessária presença de alguém.
Ela ou outra
mas sempre
ela
querida
companheira amiga amante.
Breve irei encontrá-la,
definitivamente, por algumas horas,
em outra cidade
em outra rua
em outro bar
em outro quarto de hotel.
Ansioso na esperança que alguma compreenda,
entre e fique,
permaneça ao meu lado, querida.
Querida, meu amor
para o todo o sempre.
Amém.
(Publicado in A Amada do Sonho, Frente Editora, 2001)