VIDA DE UM ILUSTRE DESCONHECIDO
Nasci torto sem estribas certas,
A galope a minha vida se transformou em um antiquário,
Sou uma peça da coleção,
Assim como os objetos apenas decoro,
Ilustro a vitrine,
Mostro aos tranzumantes como a vida pode ser interessante,
No ultimo mês perdi o meu status para um abajur,
Ta certo que não era qualquer abajur, tinha uma luminária com pedras,
Não dava para se saber qual seria o valor das pedras,
Mas com certeza era maior que o meu,
Não fui mais necessário e posto agora no alçapão,
Faço companhia para as aranhas e para os ratos,
Uma das aranhas até fez uma teia em mim,
Foi quando eu descobri a minha vocação,
Estava me sentindo útil pela primeira vez na vida,
Já não era mais apenas decoração, agora participava da vida,
De uma família de aranha!
Essa era a minha verdadeira família,
Não a que eu escolhi, mas sim a que me escolheu,
Ela me acolheu e mostrou que a utilidade das coisas...
Está além da admiração ou reconhecimento externo,
E está portanto no afeto despendido entre os seres.