boicote
vivo perdendo as coisas
são óculos, lápis e caminhos
coisas muitos plurais
para uma vida singular e turbulenta
as coisas vivem se perdendo de mim
memórias, canções e sentimentos
que vou deixando por aí
espalhados, caóticos e
à procura de mim mesma
os espelhos da vida,já não refletem
todos,
a minha imagem
deixam-me a face em jejum
de identidade
e, oca e sem graça
tropeça na calçada
assustada com algo
com sombras,
sons irreconhecidos
vivo perdendo as coisas
na verdade é um auto-boicote
é como se eu quisesse
parar,
estancar
estagnar
e, por fim secar
todas as fontes,
e forças
de mim mesma
quem sabe assim perdida
sem elos e vínculos
no torvelinho dos moinhos
eu encontre meu Dom Quixote
ou Sancho Pança
Mas meu fiel escudeiro
é a adorada Dulcinéia
que adora ferramentas
que pinta, borda, cozinha
e ainda, se esforça para ganhar
do tempo perdido
perdidas emoções talhadas
no rosto
na alma,
de quem quis acertar
de quem se arremessar,
sem se perder
vivo perdendo as coisas,
não sei se é desleixo,
se é mania,
se é enlevo
ou a revelação secreta de
minha consciência
a me revelar na surdina
que, o que há
dentro de mim,
de minhas veias e versos
jamais escapará de mãos e
de minhas rezas.
não vou me boicotar
pelo simples prazer
de perder
sem dar um tiro,
sem ir a guerra
e enfrentar
os monstros ou moinhos.
ainda que para isso eu tenho
que perder de vez toda a decência