boicote

vivo perdendo as coisas

são óculos, lápis e caminhos

coisas muitos plurais

para uma vida singular e turbulenta

as coisas vivem se perdendo de mim

memórias, canções e sentimentos

que vou deixando por aí

espalhados, caóticos e

à procura de mim mesma

os espelhos da vida,já não refletem

todos,

a minha imagem

deixam-me a face em jejum

de identidade

e, oca e sem graça

tropeça na calçada

assustada com algo

com sombras,

sons irreconhecidos

vivo perdendo as coisas

na verdade é um auto-boicote

é como se eu quisesse

parar,

estancar

estagnar

e, por fim secar

todas as fontes,

e forças

de mim mesma

quem sabe assim perdida

sem elos e vínculos

no torvelinho dos moinhos

eu encontre meu Dom Quixote

ou Sancho Pança

Mas meu fiel escudeiro

é a adorada Dulcinéia

que adora ferramentas

que pinta, borda, cozinha

e ainda, se esforça para ganhar

do tempo perdido

perdidas emoções talhadas

no rosto

na alma,

de quem quis acertar

de quem se arremessar,

sem se perder

vivo perdendo as coisas,

não sei se é desleixo,

se é mania,

se é enlevo

ou a revelação secreta de

minha consciência

a me revelar na surdina

que, o que há

dentro de mim,

de minhas veias e versos

jamais escapará de mãos e

de minhas rezas.

não vou me boicotar

pelo simples prazer

de perder

sem dar um tiro,

sem ir a guerra

e enfrentar

os monstros ou moinhos.

ainda que para isso eu tenho

que perder de vez toda a decência

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/04/2008
Reeditado em 16/04/2008
Código do texto: T946165
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