primavera contida

Quando eu houver chorado todas as lágrimas

furtadas, furtivas

Ensopada de todos meus suores e rancores

que eu conheça a redenção

que eu conheça alguma paz

E que sinta a morte com brandura,

com a candura dos anjos

Quando eu houver chorado todos meus mortos

Que eu celebre a vida,

O renascer do sol no dia seguinte

A lua embevecida no mar de crepúsculo

sangrento, a dilacerar no horizonte todos meus instantes

Mas são tantas as lágrimas,

e tudo é tanto

que dá vontade de chorar.

A música me lembra de algo

que não quero lembrar

O passo bêbado erra o caminho, afunda na lama e

se dirige sóbrio em direção de si mesmo

Os olhos submersos em lágrimas,

em sua estética aquática e borrada

vê a transparência das coisas, o cristal límpido

diante da tela do inconsciente

A nos sussurrar regras, princípios e atavismos.

Eu antes de ser o que sou,

já estava predestinada por minha história,

por minha herança e

por meu remorso.

Quando eu houver conhecido o fim de todas as mágoas

Serei livre para me estender até o horizonte

E deixar lá, flanando os nacos de esperança

a borboletar no espaço a beleza das cores,

E o cheiro intenso

de primavera contida.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/03/2008
Código do texto: T921642
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