O PASSAGEIRO DAS SOMBRAS
Conheço um certo homem que acena todo dia para si
Lá de longe ele avista a incerteza que compõe o seu traçado
Quanto mais bebe o mar de suas lágrimas, mais nele acha-se a submergir
Esse homem é uma esperança perdida n'algum lugar do passado!
Trilhas de confetes mudos não norteiam sua bússola interior
Ele se cala diante das vozes que insultam suas veias transbordantes
Bate palmas nas portas do teatro, que seu riso não encenou
Esse homem pisa no universo com pensamentos esvoaçantes!
Todos pintam seu retrato e na arte final, uma caricatura;
Seu olhar é uma ópera com afã de jazz e apelo de tango
A cada dez metros a crescer, ele torna-se agigantada miniatura
Um nadador das estiagens, um velocista manco!
O homem que conheço faz as malas, porque mora em suas fugas
Até hoje nenhum beijo fez carinho na face pálida de sua solidão
Não se vê seus desesperos, pois os guarda sob as rugas
Enquanto adormecem os indiferentes, ele caminha pela escuridão!