A vida, um riacho

Isso tudo parece tão virtual, inócuo e vazio...
Que dá a impressão que dentro da gente tem um túnel
Ou talvez um riacho, que passa rápido..
E a gente fica assistindo por cima, em uma árvore.
Quando fixamos os olhos em algo
Perdemos o outro que vem logo atrás..

Tudo muito rápido.. "impegável",
Intocável..
Triste..
Quando damos sorte...
Acontece que uma coisa do riacho..
Encalha em uma pedra,
E a gente, de cima da árvore..
consegue apreciar um pouco mais..
Mas logo essa coisa se vai também.

E fica somente a gente... na árvore...
Olhando o riacho passar..
Até cochilar,
E cair da árvore no riacho..
E se ir também... junto...
Com a correnteza..

Mas mesmo assim
A gente nada, e sai pela lateral...
Jura que não vai mais subir em árvore perto do riacho,
Mas sobe novamente...

É a sina dos solitários..
Ficar vendo a vida passar..
Como um riacho..

Às vezes a gente quer ser a pedra..
Para alguma coisa encalhar na gente..
Mas, pensando bem, a vida de uma pedra é solitária..
Mais ainda que a de um solitário em uma árvore
Vendo o riacho passar...

Viu só? Encalhou na pedra do meu riacho..
Mas já se vai...
E eu vou ficar na árvore,
Vendo o riacho,
E talvez caia na água
E se vá, sem nadar.