Subúrbio errante

Ordenhas a vaca inexistente,

os leitos de pedras,

a seiva das árvores,

a lágrima compadecida..

Projetas tua presença

no silêncio de sua ausência,

a silhueta que mais seduz

é feita de sombras,

a luz é apenas o contraponto.

Olhos devoram o tempo.

E as imagens

corroem o presente

como traça,

a cada olhar, menos um momento

a cada segundo,

menos um sentimento

Resta um vazio

Resta um oco

Preenchido de alma

perdida e vagante

Grito interrompe a atenção cotidiana

Olhos correm para ver o invisível,

A dor que escraviza o homem.

Que o brutaliza

Tira-lhe o fôlego,

Despe-lhe de civilidade

Só visgo ainda guarda

alguma substância humana

Suores e odores atropelam

meu caminho.

Percorro em silêncio agudo

esse trapézio irregular da calçada

no labirinto de passos

chego ao ponto final

o fim da linha,

o fim dos trilhos

depois das tarefas,

burelescos afazeres

o calor intenso

banha-me de cansaço

estreita-me a vista

gosto das imagens embaçadas

borradas de cores interessantes

e interagentes

gosto dos sons que não ouço

do fabricado contexto de monastério

coloco os óculos

ajusto a visão

e uma faca pontiaguda espeta-me

a me cortar impressões estéticas

de um subúrbio errante.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/03/2008
Código do texto: T897637
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