Poderes cotidianos

Posso fazer algum café

Quente ou morno

Posso fazer alguma graça,

Contar uma piada da qual não me lembro mais...

Posso ainda fingir,

Ser hipócrita, dar tapinhas nas costas

E rir da tolice e ingenuidade de todos

Seria mais fácil.

Seria mais rápido .

Menos estressante

Viver sob a sombra das aparências

E no ritmo ditado das conveniências

Mas minha natureza se inclina,

Se estufa

Reage bem antes de eu pensar

É automático

O meu inconformismo

A curva centrípeta pode dobrar meu corpo

Fazer-me cair

Mas as máscaras sociais não me obrigarão

a ser

quem não sou

Não me exilarão de mim mesma

A buscar os falsos afagos da platéia

A vida não é palco.

Não há script prévio a ser decorado e traduzido.

Não há gente na cochia a lhe sussurrar as deixas...

E nem a pantomima esperta das atrizes

Mas há a tatuagem subcutânea da genética,

da história, dos afetos

do laborioso crochet dos tempos vividos.

Escapar a isso tudo, é desafio.

Nos bastidores não há maquiagem

Há apenas a alma, banhada

em segredos e

solidão.

A espreita de se libertar ao vento,

Para a chuva

Ou num poema qualquer de fim de tarde.

Conhecer o ocaso

É adentrar na parte negra de nós.

E sem luz , imersos em nós mesmos

É mais fácil descobrir o que poderíamos

fazer,

o que poderíamos decidir

ou hesitar

enfim simplesmente viver

com os poderes cotidianos.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/03/2008
Código do texto: T894688
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