Imaculada maternidade
Ainda que estas palavras durem uma eternidade
E o suspiro dessa mulher se prolongue até aos últimos dias
Não serão palavras, nem suspiros, a apenas orfandade
Deste vazio ocupado de dor e saudade dos primeiros dias
As lágrimas não lavam a dor da maternidade
Os suspiros não dignificam a culpa da carne
Um ventre habitado é, porta de taberna escancarada
Pois é ilusão acreditar numa dor sentida imaculada
Ainda que esta dor perpasse as entranhas de todos os seres os seres
Não haverá punição que nos livra do juízo, a verdade é sempre para o fim
A astúcia do suspiro pode desorientar a borboleta, como ventos que anunciam chuvas
Mas, o dedo telúrico de Adão, curva as dores tortas em declive ascendente para o nosso “sim”
A humanidade implora dia-a-dia para o “sim” dos deuses, e o nosso sim afinal?
Onde estará o nosso benzido “sim” - profana concordância das espécies
Andará algures esquecido na sacristia do tempo ou numa taberna orgíaca de prazeres?
Onde andará o nosso benzido “sim” , adquirido a preço de banana nesses profetas?
Ainda que apareça o “sim” dos deuses e também o nosso “sim”
Ainda que apareça o suspiro e a dor da mulher
Faltará ventre nunca antes habitado
Carne alva
Via cândida
Imaculada maternidade