Só... ou sozinho?

23/09/07

Me sinto só...

Ou será que é sozinho?

Nunca sei a diferença

E, quem sabe, você

Atento leitor amigo

Em sua imensa sapiência

Possa dar seu veredito

E ajudar-me na sentença

Acordo a noite

E procuro ali ao lado

Outro corpo e frustrado

Dou-me conta que não há

E sem outra alternativa

Guardo o abraço, reprimindo

Jogo fora a energia

Pela falta absoluta

De um alvo pro carinho

E aquele comentário

Supostamente inteligente

Sobre o lance da TV

Fica ali retido, suspenso, perdido

Pela falta do ouvido

Que o ouça e acolha

Intervenha e opine

Ou quem sabe só sorria

Um sorriso respeitoso de desdém

Pelo tamanho da bobagem proferida

Sinto falta do barulho

Lá pra dentro, lá no quarto

Abre porta, fecha porta

Alguns passos apressados

Liga luz, apaga luz

Uma frase que eu ouço,

Que eu ouço, mas não escuto

Que a seguir meu nome chama

“Cade isso ou aquilo?”

“Qual sapato tá melhor?”

“O marrom de fivelinha?”

“Ou o preto com tirinha?”

“Ou quem sabe uma sandália?”

Para mim todos iguais

Ou barulho na cozinha

Tilintar de alguns talheres

Geladeira que se abre

Abre porta, fecha porta

Um barulho de panela

Bate leve no fogão

E o som inconfundível:

Algo cai e algo quebra

Seguido de um palavrão

Da conversa, do silêncio

Do litígio, do consenso,

Companhia de sofá

Do filminho, da pipoca

Pizza, esfirra, empada e tapioca

Do mercado de madrugada

Telefone de surpresa

Do torpedo, do email

De lembrar e ser lembrado

De um abraço apertado

De um beijo apaixonado

Do carinho atrevido

Do desejo incontido

Do prazer e do soninho...

Estou só...

Ou é sozinho?

E aqui me encontro eu

Dialogando com você

Meu leitor imaginário

Implorando a companhia

Do papel, da poesia

E de alguém que possa lê-la

Pois sozinho vou vivendo

O mal moderno, como muitos

De ser só por opção,

Mas mesmo que algum dia

Encontrasse a mais perfeita

E desejada companhia

Estou certo que assim mesmo

Ainda só eu viveria