pegar a estrada
quando peguei a estrada,
estava na mão
na linha do destino
rascunhada na palma de mão
meus passos tímidos sobre o barro ainda úmido
imprimiam pegadas, rastros, desvios
para atalhos desconhecidos
contidos no parêntese da existência
a rua lá fora com sua algaravia
pulsava transbordando cheiros, jeitos e gente
aos borbotões migravam pássaros
que iam cantando sua sina pelos céus
o sol quase implacável
quedava-se em silêncio, perante uma chuva fina
e redinha
o colorido das flores lembrava as primaveras
esquecidas da infância,
o cheiro de damasco
a premiar as lembranças com o impossível
túnel do tempo
quando peguei a estrada
bem na palma de minha mão
eu era criatura de mim mesma
eu era criada por mim mesma
mestra do bailar esquisito
de sobreviver
de se aquecer em silêncio
de sorver as lágrimas e as lamúrias
na esperança de esquecer,
na esperança de que
ao pegar a estrada,
a solidão largaria de mim...