pegar a estrada

quando peguei a estrada,

estava na mão

na linha do destino

rascunhada na palma de mão

meus passos tímidos sobre o barro ainda úmido

imprimiam pegadas, rastros, desvios

para atalhos desconhecidos

contidos no parêntese da existência

a rua lá fora com sua algaravia

pulsava transbordando cheiros, jeitos e gente

aos borbotões migravam pássaros

que iam cantando sua sina pelos céus

o sol quase implacável

quedava-se em silêncio, perante uma chuva fina

e redinha

o colorido das flores lembrava as primaveras

esquecidas da infância,

o cheiro de damasco

a premiar as lembranças com o impossível

túnel do tempo

quando peguei a estrada

bem na palma de minha mão

eu era criatura de mim mesma

eu era criada por mim mesma

mestra do bailar esquisito

de sobreviver

de se aquecer em silêncio

de sorver as lágrimas e as lamúrias

na esperança de esquecer,

na esperança de que

ao pegar a estrada,

a solidão largaria de mim...

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 27/02/2008
Código do texto: T878646
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