As mãos do silêncio
As Mãos das Sombras e do Silêncio
A noite vai tão longa agora
Sinto como se o tempo não passasse,
Numa calmaria sem chuva
Nem nada que entre os túmulos andasse;
Um silêncio sem graves sons de outrora
Sem bater de asas ou respiração
Numa neblina que em mente turva
Toda a paisagem da introspecção.
Como uma figura realmente distante
Que escondesse em si todo um segredo
Com ares frios de uma lasciva cortante
De quem caminha à noite no denso arvoredo;
Um mistério que dos olhos é desconhecido
Onde obtusos dedos tentam incessantes tocar
Em tudo aquilo que passa longe, despercebido...
Como um atalho que alonga a viajem,
Como no sol o ímpeto de uma miragem
Para as ânsias do viajante salvar...
Eu ouvi nesse silencio uma resposta;
Como no sono dos vitoriosos, o sono sem volta,
Sinto essas mãos me aconchegarem
Trazendo a mim tudo o que elas ocultam
E jamais, enquanto escuro, há de me negarem,
Pois como a chama queimo na revolta
Aumentando em silencio a sombra que segue
Aviventando os males que na insânia avultam
Tudo o que a treva vil persegue...
Dentro de uma masmorra sedimentada
Onde falsos reis prantearam sua desonra,
E renegados onde sua sede tivera alimentada
Ao lúgubre sangue de quem não teve honra.
É assim que essas mãos hostis me acolhem
Tirando e dando o pranto pra quem escolhem,
São essas mãos que constroem e destroem
Que eu jamais deveria ter abandonado.