Alheia
Sinto-me alheia,
avessa
ao trem que passa
ruas vazias,
carros, buzinas.
Nada importa:
o olhar distante
diluído na chuva.
Respiro:
fumaça,
solidão.
Respiro
vida às avessas
alheia ao que se passa.
Sinto-me
como pássaro sem dono
gato molhado,
paixão a primeira vista.
Meu diário de bordo
revela
um homem secreto
e em versos escrevo,
quando ele parte,
esvaindo-se na cidade nua,
louca e crua.
(Meu coração cigano em pedaços).
E nada mais importa,
os latidos,
o amanhã que não chega:
rastros.
Nos compassos da vida
vou seguindo
sem nada dizer a ninguém
o amor que me habita
guia meus passos
ilumina,
dissolve-se em pétalas.