madrugada

Quantas chagas podem ter um corpo?

Quantas almas podem habitar o improvável?

Quantos gramas pesam essa alma?

Se é leve, se é pluma

Se é chumbo ou se é concreto

Amarrado aos pés das emoções

Sejam essas doentes, dementes ou apenas dormentes.

Sob a pálpebra dorme a luz,

Ainda que diante das trevas.

Sob a crueldade pungente,

Dorme profundamente alguma necessidade de amor.

A mão que mata, sufoca e aniquila

É a mesma mão que afaga, planta e glorifica.

Mão traiçoeira.

Mão paradoxal.

Mão a colher lágrimas,

chuva ou mazelas...

Naquele guarda-chuva existem

milhares momentos que não mais há.

Existem segundos secretos de bomba

prestes a explodir

Existem segredos enterrados diante dos céus,

na presença das nuvens

E que teve deus por testemunha.

E a contagem eternamente regressiva.

A autoria explícita de um nome

de uma palavra que nos sangra

até a boca.

A fome explícita que nos arrebata

em silêncio.

Mil portas se fecham

Mil escadas que vão para lugar nenhum

Chagas incuráveis

Dores inesquecíveis

Marcas tatuadas no esgoto da vida.

Ratos roendo o próprio rabo.

Sobreviventes em trapos,

erguem fiapos contra canhões

Poesias contra guerras.

Quixotes contra moinhos

E os ventos dão movimento a paisagem

Numa brisa suave

da madrugada.

de nenhuma resposta .

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/02/2008
Código do texto: T841803
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