madrugada
Quantas chagas podem ter um corpo?
Quantas almas podem habitar o improvável?
Quantos gramas pesam essa alma?
Se é leve, se é pluma
Se é chumbo ou se é concreto
Amarrado aos pés das emoções
Sejam essas doentes, dementes ou apenas dormentes.
Sob a pálpebra dorme a luz,
Ainda que diante das trevas.
Sob a crueldade pungente,
Dorme profundamente alguma necessidade de amor.
A mão que mata, sufoca e aniquila
É a mesma mão que afaga, planta e glorifica.
Mão traiçoeira.
Mão paradoxal.
Mão a colher lágrimas,
chuva ou mazelas...
Naquele guarda-chuva existem
milhares momentos que não mais há.
Existem segundos secretos de bomba
prestes a explodir
Existem segredos enterrados diante dos céus,
na presença das nuvens
E que teve deus por testemunha.
E a contagem eternamente regressiva.
A autoria explícita de um nome
de uma palavra que nos sangra
até a boca.
A fome explícita que nos arrebata
em silêncio.
Mil portas se fecham
Mil escadas que vão para lugar nenhum
Chagas incuráveis
Dores inesquecíveis
Marcas tatuadas no esgoto da vida.
Ratos roendo o próprio rabo.
Sobreviventes em trapos,
erguem fiapos contra canhões
Poesias contra guerras.
Quixotes contra moinhos
E os ventos dão movimento a paisagem
Numa brisa suave
da madrugada.
de nenhuma resposta .