O nada

Acordo, e tudo está vazio.

Olho ao meu lado: cadê meus amigos? Meus parceiros? Meus ideais? Já se foram há um bom tempo. Hoje, contemplo a solidão do meu ser por não ter nada. Palavra tão pequena e trivial, mas que pode ter milhares de interpretações. O que é o seu "nada"? O meu nada é o estado em que não tenho nada para me agarrar, nem como fugir das minhas ocultas verdades.

De frente ao espelho, eu sou eu. Por um instante, penso: "Oh, que terrível solidão!" E, por outro, me vem a sensação: "Foi por isso que pedi esse tempo todo!"

Já que não possuo mais nada a que me agarrar, vejo nisso a oportunidade de traçar uma nova trajetória. Talvez seja parecida com a dos meus sonhos, ou com aquela que a vida me proporcione e que eu tenha que aceitar — aprendendo, assim, mais uma dura lição. A vida é assim: perder ou ganhar. E é no fracasso que posso ser eu e pensar: eu sou livre!

Pois não tenho ninguém para me ditar o que é certo, nem ideais concretos, muito menos certezas sobre o caminho. E isso me oferece a grande oportunidade de trilhar o caminho d’A Eremita: provar, testar, sentir, deixar de lado o que não serve e guardar no coração o que faz minha alma vibrar.

E agora, nada vibra. Tudo está completamente pintado de preto.

Eu seria louca de dizer que gosto de estar nesse estado?

Caramba, estou realmente só! E acho que foi tudo o que pedi, depois de tantos anos tentando me refugiar em pessoas que não eram para mim — em lugares, empregos, rodas de amigos e ideias irracionais que me prendiam ao medo de me ver livre das correntes externas.

Comemore intensamente, comemore! Muitos diriam que é ser um fracassado, ou uma grande fracassada.

Pois eu digo: estou feliz por ter fracassado, pois esse fracasso me fará trilhar caminhos reais, que me levarão ao objetivo tão esperado: a grande busca do Eu.

Cora Fox
Enviado por Cora Fox em 05/04/2025
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