Gelo Verdadeiro
É um gelo Verdadeiro,
Que queima no tocar,
Não queria ficar de rosto feio,
Mas você não quer falar.
Queima, queima, arde e congela,
Com a mordida do inverno,
Só queria uma noite bela,
Mas me sinto num inferno interno.
Luzes fortes da cidade, perdi-me em teu prisma,
Me perdi na minha idade,
É falta de carisma.
Silêncios e palavras afiadas,
Machucam como espadas,
Mas não quer nem saber,
Não quero nem me ver.
Até agora eu tentei,
Mil vezes erro e milhares errarei,
Dessa luz noturna sob a cadeira,
Me sinto sempre na beira.
Queria só ouvir que sou amado,
Mesmo que esteja armado,
Mas sou só grão desértico,
De um Deus cético.
Uma pintura de revolta gregoriana,
Perdido em era vitoriana,
Parado em tão grande cama,
Fico-me com minha fama.
Em tensão, em ansiedade,
Com saudade,
Tentando manter a seriedade,
Queria correr, sem maldade.
Enraizado numa cadeira paralisado,
Nem um timbre saia, sou covarde,
Mas quando lhe chamei e me negou,
Alguma coisinha trincou.
Olho para o chão, entre vergonha e cansaço,
Fugindo do meu abraço,
Faz frio, numa alma terrível,
Que só queria te ver de rímel.
Porventura nas tuas ignorâncias,
Estarei preso em instâncias,
Checando e-mail, vendo mensagens e processos,
Estou nos meus protestos internos.
Quero me encolher,
Se não vou ter você,
Numa pulpa,
De pura culpa.
Esse pássaro cansado, voa, voa, faz a boa,
Num jogo de cara e coroa,
Tirando sua coroa e virando a cara,
Estou de alma pálida.
Quando eu fujo, nunca me arrastou ao seu redor,
Me sinto como se tivesse um fedor,
Alastrado na minha covardia,
Queria ser sua moradia.
Enquanto fazem festa e cantando,
Estou controlando, não estou chorando,
Triste e agoniado,
Por não estar do seu lado.
A ansiedade tá me matando,
Com você me ignorando,
Eu continuo errando,
E te amando.